Dia Mundial de Conscientização do Autismo: Entrevista com Professora Rosinete Guedes Lopes Barreto
Neste terça, 2, temos o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, oportunidade essencial para refletirmos sobre a importância da inclusão e da compreensão dessa condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
Para nos ajudar nessa jornada de entendimento e sensibilização, tivemos a oportunidade de entrevistar nossa colega professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE), Rosinete Guedes Lopes Barreto, Doutora em Aquisição da Linguagem Oral e Escrita, há 32 anos dedicando-se ao Ensino de Educação Especial.
Com seu conhecimento e dedicação, Tia Rose compartilhou insights valiosos sobre o autismo, os desafios enfrentados pelas pessoas afetadas por essa condição e o papel crucial da educação na promoção da inclusão.
Acompanhe esta entrevista para obter uma compreensão mais profunda sobre este tema e como podemos trabalhar juntos para construir uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.
1. Como você define o autismo e quais são suas características principais?
O autismo não é uma doença, é um transtorno no desenvolvimento do cérebro que afeta a capacidade de relacionamento com pessoas e o ambiente. Se divide em Suporte 1, grau leve, sem muito comprometimento cognitivo e motor, Suporte 2, grau moderado, e Suporte 3, mais severo, comprometendo a cognição, a linguagem verbal, as funções motoras e outros.
O estudante com autismo não gosta de interagir com os pares. São resistentes a mudanças e apresentam dificuldades em iniciar ou manter conversas. Têm risos inapropriados e não olham nos olhos, demonstrando certa frieza emocional, bem como outras características.
2. Quais são os principais desafios enfrentados pelas pessoas com autismo no contexto educacional e social?
Um grande desafio, principalmente para as famílias, é que as crianças precisam de intervenções psicopedagogicas, ABA (Análise do Comportamento Aplicada), fonoaudiologia, terapia ocupacional, entre outras, e muitas não têm acesso. Além disso, se esbarra muitas vezes na aceitação do outro. A criança com TEA (Transtorno do Espectro Autista) precisa ser bem acolhida e incluida a todos os ambientes do meio em que vive, principalmente no ambiente escolar.
3. Qual é o papel da escola e dos professores na inclusão de alunos com autismo?
A escola tem que entender, primeiro, que a educação inclusiva não se refere apenas a integração dentro da sala. É preciso derrubar ou amenizar as barreiras para que se consiga o processo de aprendizagem desses alunos. Não é fácil, eu sei, mas tudo passa pelo processo de adaptação.
4. Quais estratégias pedagógicas são mais eficazes para apoiar o aprendizado de alunos com autismo?
Faz necessário o professor planejar atividades adaptadas, fazer uso de recursos assistivos, aplicativos, de software, como a gente mesmo faz (referência às atividades com os chromebooks, na nossa escola). Isso ajuda demais essas crianças e gera para elas um ambiente de aprendizagem mais prazeroso. Eles gostam de interagir com jogos durante a aplicação de atividades. Dessa forma, o processo de aprendizado se potencializa!
É por isso que se faz necessário o acolhimento, a estratégia de atividades, porque cada criança é uma realidade, cada uma tem a atividade que gosta mais.
5. Como os pais e familiares podem contribuir para o desenvolvimento e bem-estar de uma criança com autismo?
Os pais são fatores predominantes no processo de aprendizado dessas crianças. Uma vez que muitas chegam na escola agitadas, eles precisam ser nossos parceiros e confiar no nosso trabalho.
Eu, por exemplo, preparo jogos para as crianças e também preparo jogos para a família, porque é um trabalho de interação. A família tem que estar perto da escola para conhecer a realidade do aluno e qual é a função dele dentro do espaço escolar. Ele não está aqui na escola apenas para brincar, ele está e se reconhece como estudante, com seus direitos de aprendizagem garantidos. Isso faz parte da acessibilidade.
6. Quais são os estigmas mais comuns associados ao autismo e como podemos combatê-los?
Tudo hoje, qualquer ação diferente de uma criança já leva para a questão do autismo, e na realidade não é! Muitas vezes as crianças apresentam traços parecidos com o do autismo, a questão da interação, a questão das repetições, de não querer realizar determinadas atividades, mas isso muitas vezes não é finalístico para o diagnóstico.
Às vezes, a criança apenas não foi estimulada! A criança precisa ser estimulada, ela precisa ser acompanhada. Muitas vezes, porque ela não passa pelo incentivo, os pais já levam para essa área, o professor também, já pensa logo: "essa criança é autista". E nem sempre é! E, mesmo, sendo, muitas vezes falta aquele chegar perto, acolher a criança. Muitas vezes ela se fecha só por falta disso. A criança precisa ser acompanhada e observada durante o processo e ver despertado o interesse nas atvidades escolares e cotidianas.
7. Em sua opinião, qual é a importância do Dia Mundial de Conscientização do Autismo?
É importantíssimo. Há 32 anos atrás, ninguém nem falava nessa questão. A criança era tida como um aluno que não aprende nada, um aluno que não tem condição, não tem capacidade. Graças a Deus, a visão que se tem hoje é completamente diferente.
Hoje, as pesquisas demonstram que é um transtorno e que precisa de acompanhamento para que ele se desenvolva. Como ela está sendo valorizada! Praticamente, uma criança, quando nascia com algum problema, muitas vezes ele era isolados dentro de casa, dentro de um quarto, tendo como um doente, como um louco. E hoje não! As informações para a população estão sendo bem difundidas, reduzindo a discriminação.
8. Que tipo de atividades ou ações podem ser realizadas para sensibilizar a comunidade sobre o autismo?
Palestras interagindo família e escola. Um momento de envolver a família, a escola, trazendo as mães num momento assim. Eu sempre trabalho com eles, por exemplo, nos piqueniques no Parque da Criança, participação em todos os eventos comemorativos da escola, nos momentos de levá-los para um campo, um ambiente onde tenha piscina, para interagir, trazer essa questão do afeto, do carinho, a acolhida.
Essas mães também precisam desse momento. Muitas vezes, elas passam pela questão do aceitar e muitas vezes existe o preconceito, tudo isso influencia. Principalmente com elas e com os pais, de mostrar que não é uma doença, que a criança pode se desenvolver.
A mínima coisa que aquela criança aprenda é um passo muito importante! É uma conquista!
É a questão da aceitação e o amor, o carinho. Essas crianças, elas precisam ser muito amadas e aceitas por todos!
9. Como a Escola Municipal Félix Araújo promove um ambiente inclusivo e acolhedor para alunos com autismo?
O primeiro trabalho que nós desenvolvemos dentro da nossa escola é a questão do respeito, a aceitação, a atenção que todos têm que dar a eles, além do carinho, não tratando como ser diferente, mas sim como ser participativo, como um aluno que está ali também para aprender. E como nós aprendemos com as diferenças!
Eu trabalho muito com essa questão do acolhimento, do amor, da atenção, que eu acho primordial. E a Escola Félix Araújo faz esse tipo de trabalho muito bem, promove muito bem essa interação com a família. Eu sempre estou em contato com os pais, eu sempre dou esse feedback à família. Eu acompanho a criança desde a sala de aula até a sua alimentação, o banheiro, o apoio. Eu estou sempre chegando perto e passando para a família essa segurança.
10. Quais são as principais conquistas e avanços nossos na área da educação inclusiva para pessoas com autismo?
Nós temos alcançado muitas coisas. Nós temos a Clínica Afeto (Clínica Escola do Autismo, vinculada à Prefeitura Municipal), nós temos muitas instituições que atendem essas crianças, como a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), como o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), e nós sempre estimulamos nossas crianças para essas terapias, porque se faz importante a dar suporte.
A aqui na escola, sempre promovemos eventos de interação, trazendo mais a família para perto. Então, nosso trabalho também é o trabalho de conscientização.
E, aí, os avanços são muitos. Se levarmos em consideração, há 32 anos atrás, onde nós não tínhamos recursos nenhum, onde o Governo Federal não investia nessa área, essas crianças ficavam na sala de aula apenas por estar, muitas vezes desistiam, se evadiam por conta do tratamento, por não terem essa ajuda.
A Lei da Acessibilidade (Lei n.º 10.098/2000) veio justamente para nos dar esse suporte, inclusive financeiro. Verbas que ajudam o professor a dar suporta para se trabalhar com essas crianças.
Outro ponto muito importante também é a questão deles terem direito a um benefício. Muitos precisam desse benefício pra ajudar no tratamento. A gente sabe que não é fácil. Tudo isso bem interfere nesse processo.
Sobre o Dia Mundial da Conscientização do Autismo
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado todos os anos em 2 de abril, é uma iniciativa global que visa aumentar a compreensão e a aceitação das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, como forma de destacar a necessidade de promover a inclusão, defender os direitos e garantir a igualdade de oportunidades, em todo o mundo, para os indivíduos com esta condição.
Ao destacar essa data, a ONU busca chamar a atenção para os desafios enfrentados pelas pessoas autistas e suas famílias, bem como para promover a conscientização sobre a importância do respeito à diversidade.
Esta data também serve como um lembrete da necessidade contínua de investir em pesquisa, serviços e políticas públicas correlatas. Ao reconhecê-lo, estamos dando um passo importante em direção a uma sociedade mais inclusiva, justa e compassiva!
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